Hoje estou escrevendo direto de Cerro Tololo (Chile), local onde se encontra o telescópio Blanco e muitos telescópios de outros projetos, incluíndo o T80-Sul, nosso telescópio no S-PLUS. Religamos recentemente os equipamentos depois de um longo período em que todos os telescópios da região ficaram desligados, por segurança, por conta de um ataque hacker no Gemini Norte. A visita serviu então para monitorar os equipamentos e fazer os rotineiros backups semestrais.
A vista a partir do Cerro Tololo é indescritível, e o céu noturno é literalmente único no mundo (justamente por isso tantos telescópios internacionais são colocados aqui). A montanha fica muito próxima de Cerro Pachón, sítio de outros três telescópios muito importantes pra astronomia, e com participação Brasileira: Soar, Gemini-Sul e LSST. Infelizmente, dessa vez não consegui tirar um tempo pra visitar nenhum deles.
Chegar aqui não é fácil. Começou com um vôo de Santiago para La Serena, chegando em um pequeno aeroporto onde temos que descer do avião na pista e caminhar até o terminal, já com uma vista privilegiada da Cordilheira dos Andes. Passei a noite na habitação de visitiantes no escritório Aura, próximo à Universidade de La Serena. Pela manhã, segui para a montanha em uma Van, que faz o trajeto de ida e volta diariamente. A viagem até o Cerro Tololo dura cerca de duas horas, atravessando a região do Vale de Elqui. Saímos do nível do mar em La Serena para uma altitude de 2200 metros.
Passei duas noites no "Hotel Tololo", que nada mais é que um conjunto de apenas 12 quartos na mesma construção da cafeteria. Enquanto estamos aqui, temos uma rotina bem restrita de alimentação: café da manhã, almoço e jantar são servidos na cafeteria, nos horários de 8:30, 13h e 17h, e são a única opção em toda a região. Astronomos que irão trabalhar durante a noite podem se registrar para mais uma refeição durante a madrugada e/ou pedir sanduíches para comer ao longo do dia.
Para aproveitar o máximo possível os três dias que fiquei por aqui, a rotina de trabalho foi bem puxada. Subi todos os dias pela manhã para a sala de controle que temos ao lado da cúpula do T80. Uma caminhada de apenas 5 minutos, mas que era surpreendentemente cansativa por conta da altitude. Ficava no telescópio até por volta de 20h, saindo apenas para comer e para assistir o pôr do Sol (que estava ocorrendo após esse horário por conta da localização ao Sul, e pelo Chile ter adotado o horário de Verão). Por volta de meia noita, voltava ao T80 e passava mais uma hora na cúpula, monitorando as observações.
Estou agora esperando a van para descer e descansar por mais uma noite na habitação de visitantes em La Serena. Amanhã já sigo para a Argentina, onde darei um talk e irei me encontrar com alguns colaboradores. No domingo, seguiremos para a LARIM, último congresso internacional que participarei esse ano. Vida de astronomo é cansativa, mas é muito boa!
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